27 dezembro, 2011

Novos Muros

Para que alguns desfrutem conforto amparados na miséria alheia
Estas mãos que eu não reconheço carregam pedra, tijolo e areia

Erguemos fortes, pontes, edifícios, para um novo mundo virtual
A natureza antes tão bela ainda resite e protela o seu funeral

Em que momento terá Deus ordenado:

...
- Andem logo! Dêem o seu sangue, seu suor, para que
alguns desfrutem conforto 'façamos' um mundo melhor
...

Se o coração bate junto as montanhas o canto observa a cidade
O amor é de água e de terra - sepultado por toda enternidade

Francisco de Assis

20 dezembro, 2011

Meu melhor amigo

Pai,
você me ensinou
a esvaziar a sacola
quando ela se torna pesada
e a manter apenas o que importa

Pescarias
no alto da serra
conversas intermináveis
cachacinha da boa e madrugada

É pra você que eu canto esta canção
por cada átomo do seu coração
por cada momento em que
você me guiou

Por toda a eternidade serás meu guia.

Júnior

Sofia e os seus sete anos

Ainda supreendes com perguntas sem resposta
ao menos eu não tenho todas estas respostas
e sua expressão é tantas vezes indecifrável
Os passos naturalmente seguem a sua direção

O que é o infinito?
Para que serve o governo?
Aonde terminam todos os números?
Como um vinho pode ser líquido e seco?

Meu coração sorri, todo meu corpo sorri
cada vez que você faz uma nova pergunta
mesmo sabendo que eu não tenho resposta
Este mundo tanto nos pergunta sem saber

Mas quando vem de você que vê e aprende
o mundo a sua maneira, onde tudo é vivo
e nada é como é, tudo está por se fazer
Percebo minha castração; O mundo pronto

Filha;

Aprender a vida com você é único ritual
descobrir esperança, fôlego para seguir
luz na caminhada, aprender a ser nuvem
Com esse amor maior do mundo para viver

Francisco de Assis

Os olhos dela

Perdi o sono, os olhos e a boca
no desasossêgo da silhueta dela
Caminhando o pensamento abrupto
serve ao paladar em conta-gotas

Destila que é pra não gastar de
uma vez, mas hoje e só por hoje
Deixa transbordar essa chaleira
deita teus sonhos em meus póros

Aquece o peito meu, tira os nós
dos braços e, enrosca o pescoço
Nua nuca de lavanda e marapuama
acalma e perturba minha intenção

Novamente perdido
em cada pedaço desse
teu olhar caleidoscópico

Assis Monteiro

19 dezembro, 2011

O skate, a margem e a vizinha

Lembro da gente sentado na calçada
uma tarde inteira e nada pra fazer
investigávamos universos, era isso
Formigas, chuva, ipê, luz e sombra

Escolhemos a margem, correndo azul
jogávamos cartas com vinho barato
trouxemos o brilho dos corrimões e
o desafio das rampas de madeirite

Do outro lado da rua o sorriso dela,
nós apaixonados pela mesma cabrocha
e ela nem ligava ou fingia que não
Casou, teve filhos e continua bela

Éramos teimosos em preguiçar o dia
alguns eram azedinho de três folhas
outros mormaço e garoa fim de tarde
Tinham em comum um sabor de esquina

Júnior

14 dezembro, 2011

Líquido e tempo

Hoje em dia escuto dizer; - Me falta tempo!
E realmente tem faltado. Aquele de observar,
ser observado, escrever e ser escrivinhado.
Não queremos mais a macarronada de domingo?

Meus pais envelheceram e meu irmão cresceu.

Queria escrever assim como eles, os poetas
de verdade, extrair o néctar da vida para
pintar nas linhas do meu caderno um quem
sabe o que de maravilha viva e colorida.

Enquanto esquinas virtuais trazem tanto.

Doce lembrança da infância, quando as horas
eram sentidas ao tocar o sinal do recreio.
Chuva; minha tia dizia: - Você é de açucar?
Naquela época deveria ser; pois que era doce.

Pés descalços desde o recanto das abelinhas.

Rafael meu grande amigo, meu melhor amigo
ainda falta uma peça. Não! algumas talvez.
Estou só novamente driblando dois, três.
Vivendo na luz e nas trevas de cada dia.

Receita; sonhos, determinação e paciência.

Júnior

09 dezembro, 2011

Fingida (O samba na hora certa)

Da janela do quarto
lá no alto da colina
Vejo pessoas na rua
cada um tem sua rima

Como é que eu posso ficar
sem imaginar como seria
Se você não tivesse deixado
o amor que eu lhe tinha

E agora que tudo acabou
você passa por mim
Finge que nada existiu
e que sempre foi assim

No coração do sambista
O samba tarda mas não falha
Eu não uso chapéu
e não carrego navalha

Eu fiz de tudo
pra não acabar assim
Não quero mágoa e nem rancor
mas você desdenhou de mim

E você me cobrou aquele samba outro compromisso
O que eu te dei foi com todo amor
jamais pedi algo em troca por isso

Somente o amor maior
também chamado respeito
Um dia ainda pode curar
a dor que fizeste em meu peito

F.A.

08 dezembro, 2011

Dia de chuva

Quando dei por mim começou a chover, era uma garoa bem fraquinha
olhei para o céu e lá estava a lua, e as gotinhas de chuva desciam
como se Deus estivesse compondo um concerto naquele exato instante

Cada pingo no chão brilhava e zunia, fazendo tocar uma melodia ímpar.

Lembrei das promessas, infinitas mentiras vestidas de vermelho.
Quando a canção terminou fiquei feliz pois aquilo que havia de
escroto rastejando no asfalto foi lavado, junto com meu coração.

Assis Monteiro

06 dezembro, 2011

Contemplação

Tem dias
em que a gente
se sente como uma
janela que esqueceram
de fechar, escancarada

E então chega o vento
forte levando tudo o
que vê pela frente
desarrumando a
casa toda

Lambendo as cortinas e
revolvendo os papéis
levantando a poeira
brilhante na luz
café e cigarro

E cessa o vento forte
acalmam as persianas
tudo mudou, cabide,
copo e a janela
cotinua aberta.

Assis Monteiro