Troquei os óculos mas não adiantou.
Nem sei. Deveria?
Adiantar algo?
Ontem decifrávamos qualquer presença
e hoje sigo sem enxergar as cores
saboreando o caminho que escolhi
desconstruindo antigos ritmos.
é tanto medo guardado,
é tanto medo aguardando.
O quê de coragem faltante, foi suficiente,
e deu o ar daquilo que não gostamos de ver.
é tanta dúvida torta,
é tanta dúvida morta
que já nem duvido mais,
já não me preocupo tanto assim.
Em todos os lugares -
e isso eu não sei, apenas posso sentir
- estão as cores que deixei de enxergar.
25 novembro, 2013
20 maio, 2013
É preciso perder o rumo
Eu quis um algo mais
só não sabia o que
pra poder me encontrar
precisei me perder
em cada copo um sonho
em cada esquina o chão
nos lábios um sorriso
no peito uma aflição
estive por aí
sem rumo sem porque
passei o tempo todo
tentando ver pra crer
gosto tanto da insanidade
e do olhar do furacão
prefiro a sorte torta
do que viver a conformidade
só não sabia o que
pra poder me encontrar
precisei me perder
em cada copo um sonho
em cada esquina o chão
nos lábios um sorriso
no peito uma aflição
estive por aí
sem rumo sem porque
passei o tempo todo
tentando ver pra crer
gosto tanto da insanidade
e do olhar do furacão
prefiro a sorte torta
do que viver a conformidade
14 abril, 2013
Impressões
De que lado nós estamos?
De que lado você está?
Esquerda?
Direita?
Enquanto eu olhava para o passado e pressentia o futuro
fui colhendo algumas impressões carregadas de sentimento
misturadas no meu corpo como se estivessem em um liquidificador.
Hoje cedo na rua Tenente Silveira,
a visão da índia sentada na calçada com seus filhos,
vendendo o seu artesanato, foi ali que bebi as primeiras impressões.
Continuei a olhar o passado e vieram mais impressões, mais sentimentos.
Nas mãos calejadas dos nordestinos que deixaram para trás sua terra natal
para tentar a sorte grande nas cidades de pedra assim como fez meu pai;
No rosto maquiado do travesti que só existe quando cai a noite;
Na fala muda do cidadão invisível de Alexandra Alencar;
No lombo cansado das multidões de trabalhadores nas filas da Previdência Social;
Nas costas arqueadas dos enormes bolos de carne esperando nas filas do SUS;
No choro dos seres multilados e trancafiados por suas escolhas;
No riso ezquisofrênico dos que são diferentes de mim e de você;
Na boca seca e rachada dos nóias da crackolândia;
Nos braços tatuados dos milhares de presos apodrecendo nas penitenciárias;
No olhar maldito dos policiais militares cheirando cocaína no vale do anhangabaú;
Nas pernas trêmulas dos moleques presos e espancados por fumar maconha;
No estômago torto da impotência e da humilhação perante as "autoridades";
Das invasões, das chacinas, das mortes e mais mortes causadas pela indiferença;
É o peso do martelo das diferenças.
De que lado nós estamos?
De que lado você está?
Esquerda?
Direita?
Eu estou do lado em que bate o meu coração.
De que lado você está?
Esquerda?
Direita?
Enquanto eu olhava para o passado e pressentia o futuro
fui colhendo algumas impressões carregadas de sentimento
misturadas no meu corpo como se estivessem em um liquidificador.
Hoje cedo na rua Tenente Silveira,
a visão da índia sentada na calçada com seus filhos,
vendendo o seu artesanato, foi ali que bebi as primeiras impressões.
Continuei a olhar o passado e vieram mais impressões, mais sentimentos.
Nas mãos calejadas dos nordestinos que deixaram para trás sua terra natal
para tentar a sorte grande nas cidades de pedra assim como fez meu pai;
No rosto maquiado do travesti que só existe quando cai a noite;
Na fala muda do cidadão invisível de Alexandra Alencar;
No lombo cansado das multidões de trabalhadores nas filas da Previdência Social;
Nas costas arqueadas dos enormes bolos de carne esperando nas filas do SUS;
No choro dos seres multilados e trancafiados por suas escolhas;
No riso ezquisofrênico dos que são diferentes de mim e de você;
Na boca seca e rachada dos nóias da crackolândia;
Nos braços tatuados dos milhares de presos apodrecendo nas penitenciárias;
No olhar maldito dos policiais militares cheirando cocaína no vale do anhangabaú;
Nas pernas trêmulas dos moleques presos e espancados por fumar maconha;
No estômago torto da impotência e da humilhação perante as "autoridades";
Das invasões, das chacinas, das mortes e mais mortes causadas pela indiferença;
É o peso do martelo das diferenças.
De que lado nós estamos?
De que lado você está?
Esquerda?
Direita?
Eu estou do lado em que bate o meu coração.
01 abril, 2013
Com sentir
Falávamos sobre consenso.
Buscávamos o mútuo entendimento.
Um consentimento;
dois não.
COM sentimento
SEM sentimento
Agora é tarde.
Jamais saberemos.
Jamais CONsentiremos
Buscávamos o mútuo entendimento.
Um consentimento;
dois não.
COM sentimento
SEM sentimento
Agora é tarde.
Jamais saberemos.
Jamais CONsentiremos
29 março, 2013
Conversa de bar II
O garçom trouxe a bebida e um cinzeiro, passamos algum tempo observando as mesas ao redor, cheias de pessoas, cinzeiros, bebidas. O ruído de todas aquelas pessoas falando ao mesmo tempo dava uma sensação de limpar o ouvido com cotonetes.
Francisco estava sentado na outra extremidade da mesa, enquanto me fitava apagou o cigarro sem olhar para o cinzeiro;
- Assis, você é religioso?
- Sim.
- Então você tem uma religião?
- Não.
- Como assim?
- Não tenho uma religião.
- Não entendo, ser religioso então seria como ter uma filosofia de vida?
- Não.
- Mas você tem uma filosofia de vida?
- Não, uma não, tenho algumas.
- Não consigo conceber isto, para mim a minha filosofia de vida me norteia, é o que carrega tudo o quanto acredito ser e não ser dentre os valores sociais, éticos e morais, a minha crença e descrença etc... Ter mais de uma filosofia de vida seria como ter mais de um caráter.
- Caráter, sim; tenho inúmeros.
Francisco estava sentado na outra extremidade da mesa, enquanto me fitava apagou o cigarro sem olhar para o cinzeiro;
- Assis, você é religioso?
- Sim.
- Então você tem uma religião?
- Não.
- Como assim?
- Não tenho uma religião.
- Não entendo, ser religioso então seria como ter uma filosofia de vida?
- Não.
- Mas você tem uma filosofia de vida?
- Não, uma não, tenho algumas.
- Não consigo conceber isto, para mim a minha filosofia de vida me norteia, é o que carrega tudo o quanto acredito ser e não ser dentre os valores sociais, éticos e morais, a minha crença e descrença etc... Ter mais de uma filosofia de vida seria como ter mais de um caráter.
- Caráter, sim; tenho inúmeros.
25 fevereiro, 2013
Tudo pelos cotovelos
Acho que nasci com manias.
Na verdade nasci com várias manias e sei que muitas eu fui adquirindo com o tempo.
E se digo que nasci com manias é porque algumas vieram comigo sabe-se lá de onde.
Por exemplo:
Tenho mania de falar, falar e falar pelos cotovelos
já tentei como alguns amigos ser mais discreto e menos falante
mas isso durou não mais que uma semana, talvez alguns dias.
Tenho mania de sonhar, sonhar e sonhar pelos cotovelos
já tentei como alguns amigos ser mais pé no chão e menos "viajante"
mas isso durou não mais que alguns dias, talvez algumas horas.
Tenho mania de amar, amar e amar pelos cotovelos
já tentei como alguns amigos "não mergulhar de cabeça" e ir "mais devagar"
mas isso durou não mais que alguns minutos, talvez alguns segundos.
Tenho mania de sentar em bancos de praça e ficar ali sentado, observando
pra ver se passa alguém que fale, sonhe, ame e que viva sem advertências.
Tenho mania de comer e falar de comida enquanto estou comendo.
Tenho mania de comentar música e de escutá-la com os poros.
já tentei como alguns amigos ser mais discreto e menos falante
mas isso durou não mais que uma semana, talvez alguns dias.
Tenho mania de sonhar, sonhar e sonhar pelos cotovelos
já tentei como alguns amigos ser mais pé no chão e menos "viajante"
mas isso durou não mais que alguns dias, talvez algumas horas.
Tenho mania de amar, amar e amar pelos cotovelos
já tentei como alguns amigos "não mergulhar de cabeça" e ir "mais devagar"
mas isso durou não mais que alguns minutos, talvez alguns segundos.
Tenho mania de sentar em bancos de praça e ficar ali sentado, observando
pra ver se passa alguém que fale, sonhe, ame e que viva sem advertências.
Tenho mania de comer e falar de comida enquanto estou comendo.
Tenho mania de comentar música e de escutá-la com os poros.
Tenho mania de gostar de alguém cada dia mais e mais e mais.
Eu sei; sou cheio de manias, e posso até trocá-las por outras
mas continuo com elas,
mas continuo com elas,
as minhas manias.
Assis Monteiro.
Assis Monteiro.
05 fevereiro, 2013
Corações in-visíveis
Em tempo de antiga metrópole
vestir o caos é intuição
aqueles velhos óculos
da invisibilidade
da indiferença
dos 'outros'
Tenho dito que as multidões tem sensação de anonimato
andar neste mar de gente traz uma paz que é diferente
Em tempo de cansadas canções
despir-se é o necessário
daquela velha vaidade
da superficialidade
da intolerância
da ignorância
vestir o caos é intuição
aqueles velhos óculos
da invisibilidade
da indiferença
dos 'outros'
Tenho dito que as multidões tem sensação de anonimato
andar neste mar de gente traz uma paz que é diferente
Em tempo de cansadas canções
despir-se é o necessário
daquela velha vaidade
da superficialidade
da intolerância
da ignorância
Assis Monteiro
23 janeiro, 2013
Farol
Ele nada sabe destes dias tão tranquilos
Traz nos ombros o conforto da ignorância
É metade paciência outra metade preguiça
Fatigado desse velho pensamento heróico
despojado de suas armas; uma de cada vez
Ele nada sabe destes dias tão finitos
Traz nos olhos o confronto do passado
É metade presente outra metade futuro
Ansioso em pintar seus próprios passos
calçado com a velha botina de seu pais
Ele nada sabe do tempo que lhe resta
Traz nos lábios o desconforto do fel
É metade fome outra metade sede
Melindroso por predizer dos mistérios
desta insondável esquina da vida
continua assim, caminha assim
Assis Monteiro
Traz nos ombros o conforto da ignorância
É metade paciência outra metade preguiça
Fatigado desse velho pensamento heróico
despojado de suas armas; uma de cada vez
Ele nada sabe destes dias tão finitos
Traz nos olhos o confronto do passado
É metade presente outra metade futuro
Ansioso em pintar seus próprios passos
calçado com a velha botina de seu pais
Ele nada sabe do tempo que lhe resta
Traz nos lábios o desconforto do fel
É metade fome outra metade sede
Melindroso por predizer dos mistérios
desta insondável esquina da vida
continua assim, caminha assim
com medo
com amor
com tudo
com amor
com tudo
Assis Monteiro
17 janeiro, 2013
É pouca polpa aí o suco fica ralo
Um abraço demorado na porta da balada e o teu olhar desvendando corpos
como quem escolhe um leite condensado na prateleira do supermercado
É tudo leite condensado mesmo, então vai o mais barato!
Alguém se aproxima e pergunta como estou e isso faz meu estômago revirar
Distribuem sorrisos, dissimulando verdades, disseminando ilusões, semeando, semi-andando
A alegria em reconhecer é tão forjada que dói no peito que ainda tolera isto ou aquilo
Alguém se aproxima novamente e desta vez fala que é assim mesmo, "tá tudo certo"
Finjo prestar atenção mas meu pensamento voa em outro lugar longe de lá, longe, longe,
onde jorra o céu, as cores e os sabores, toda a vida que habita nesta pergunta: - Como vai você ?
Onde foi que deixei minhas tardes de sol?
Foi cedo ou talvez tarde, eu não saberia dizer, só sei que não foi tarde demais perceber o que há.
A água é boa, cristalina, inodora.
Mas de suco ralo eu passo tranquilo.
Francisco de Assis
como quem escolhe um leite condensado na prateleira do supermercado
É tudo leite condensado mesmo, então vai o mais barato!
Alguém se aproxima e pergunta como estou e isso faz meu estômago revirar
Distribuem sorrisos, dissimulando verdades, disseminando ilusões, semeando, semi-andando
A alegria em reconhecer é tão forjada que dói no peito que ainda tolera isto ou aquilo
Alguém se aproxima novamente e desta vez fala que é assim mesmo, "tá tudo certo"
Finjo prestar atenção mas meu pensamento voa em outro lugar longe de lá, longe, longe,
onde jorra o céu, as cores e os sabores, toda a vida que habita nesta pergunta: - Como vai você ?
Onde foi que deixei minhas tardes de sol?
Foi cedo ou talvez tarde, eu não saberia dizer, só sei que não foi tarde demais perceber o que há.
A água é boa, cristalina, inodora.
Mas de suco ralo eu passo tranquilo.
Francisco de Assis
09 janeiro, 2013
Conversa de bar I
(No bar)
Falávamos sobre música, literatura, poesia e um amigo me pergunta:
- Desde quando você escreve?
- Não me lembro...
- E porquê escreve?
- Boa pergunta, não sei dizer... agora me diz, você sonha quando dorme?
Assis Monteiro
08 janeiro, 2013
Apaguem as luzes
Tem dias em que a gente acorda do avesso, percebendo o mundo de fora para dentro
o que era um sentimento tornou-se hábito, aquilo que já foi rotina agora é descoberto.
Nesses dias as paixões se (con)fundem num mar de hábitos e hábitos e hábitos.
os hábitos que também se (con)fundem num mar de paixões e paixões e paixões.
Em dias assim me lembro de Jim Morrison cantando When the music is over:
o que era um sentimento tornou-se hábito, aquilo que já foi rotina agora é descoberto.
Nesses dias as paixões se (con)fundem num mar de hábitos e hábitos e hábitos.
os hábitos que também se (con)fundem num mar de paixões e paixões e paixões.
Em dias assim me lembro de Jim Morrison cantando When the music is over:
"...Well the music is your special friend
Dance on fire as it intends
Music is your only friend
Until the end
Until the end
Until the end!..."
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