23 janeiro, 2013

Farol

Ele nada sabe destes dias tão tranquilos
Traz nos ombros o conforto da ignorância
É metade paciência outra metade preguiça

Fatigado desse velho pensamento heróico
despojado de suas armas; uma de cada vez

Ele nada sabe destes dias tão finitos
Traz nos olhos o confronto do passado
É metade presente outra metade futuro

Ansioso em pintar seus próprios passos
calçado com a velha botina de seu pais

Ele nada sabe do tempo que lhe resta
Traz nos lábios o desconforto do fel
É metade fome outra metade sede

Melindroso por predizer dos mistérios
desta insondável esquina da vida

continua assim, caminha assim

com medo
com amor
com tudo

Assis Monteiro

17 janeiro, 2013

É pouca polpa aí o suco fica ralo

Um abraço demorado na porta da balada e o teu olhar desvendando corpos
como quem escolhe um leite condensado na prateleira do supermercado
É tudo leite condensado mesmo, então vai o mais barato!

Alguém se aproxima e pergunta como estou e isso faz meu estômago revirar
Distribuem sorrisos, dissimulando verdades, disseminando ilusões, semeando, semi-andando
A alegria em reconhecer é tão forjada que dói no peito que ainda tolera isto ou aquilo

Alguém se aproxima novamente e desta vez fala que é assim mesmo, "tá tudo certo"
Finjo prestar atenção mas meu pensamento voa em outro lugar longe de lá, longe, longe,
onde jorra o céu, as cores e os sabores, toda a vida que habita nesta pergunta: - Como vai você ?

Onde foi que deixei minhas tardes de sol?

Foi cedo ou talvez tarde, eu não saberia dizer, só sei que não foi tarde demais perceber o que há.
A água é boa, cristalina, inodora.
Mas de suco ralo eu passo tranquilo.

Francisco de Assis

09 janeiro, 2013

Conversa de bar I


(No bar)
Falávamos sobre música, literatura, poesia e um amigo me pergunta:

- Desde quando você escreve?
- Não me lembro...
- E porquê escreve?
- Boa pergunta, não sei dizer... agora me diz, você sonha quando dorme?

Assis Monteiro

08 janeiro, 2013

Apaguem as luzes

Tem dias em que a gente acorda do avesso, percebendo o mundo de fora para dentro
o que era um sentimento tornou-se hábito, aquilo que já foi rotina agora é descoberto.

Nesses dias as paixões se (con)fundem num mar de hábitos e hábitos e hábitos.
os hábitos que também se (con)fundem num mar de paixões e paixões e paixões.


Em dias assim me lembro de Jim Morrison cantando When the music is over:

"...Well the music is your special friend
     Dance on fire as it intends
     Music is your only friend    
     Until the end
     Until the end
     Until the end!..."