28 novembro, 2011

Fora do tempo
(Ou uma pequena homenagem a todos os músicos)

Há no tempo um "E" que agrada
que desloca o batimento
traz a cor e um sabor

mergulha no tímpano, arrefece a alma

O Poeta diz que vai mas não se mexe
O Sábio se mexe mas não sabe que vai
O Músico espera pra ver quem vai e (se) vai
O Ator esqueceu de ir mas ainda é tempo

Ainda o "E" do tempo, mutável furta-cor
transposto no rosto, saboreado na pele
tatuado no corpo e sentido nos ossos
o sereno das mãos lapidado no olhar

Assis Monteiro

Esquece

Encontrei uma carta sua,
guardada no meio de um caderno
Foi bom ler aquilo novamente
Veio no momento certo

Será que quando você copiou
a letra daquela música
Algo em você sabia?
Algo em você mentia?

Aconteceu lembrar as palavras
Esquecê-las foi por opção
Medo de voltar para trás?
Dá um coração pro rapaz

Não precisa ser como este
Não precisa ser grande
Não precisa ser novo
Mas que acredite

Francisco de Assis

16 novembro, 2011

Deixa estar

Eu não quis te ver partir
tentei em vão te segurar
juntei todas as forças
mas não pude mudar você.

E naquele momento eu senti
o mundo desabar em cima de mim
o meu amor foi sem se despedir
fiquei ali sem saber para onde ir.

Nem a maior pá do mudo foi suficiente
para juntar todos os cacos de mim.
Queria me desintegrar, desaparecer
mas ninguém pode desaparecer de si mesmo.

Sinto muito por não estarmos juntos
e sou imensamente feliz por que
demos certo ao menos por um bom tempo.

Ainda guardo no coração os bons momentos
e agora é leve como a memória de um bom filme.
Ainda lembro de como é o seu cheiro
e isso também é leve, é orvalho na folha.

Ah! O prazer de me sentir homem feito,
feito de barro, dúvidas e incertezas
que já não me assombram por que agora
o coração é uno, conhece o espírito.

Sou canceriano ascendente em escorpião com a lua em leão.
Um carangueijo que aprendeu a pular pra frente

Deixa pra lá aquele "quem sabe um dia",
deixa estar que a caminhada continua.
Mesmo sem a sua mão na minha
eu levo um sorriso no rosto.

Assis Monteiro

14 novembro, 2011

Olhos sorridentes

É de olhar bastante que isso não gasta
Morena esse teu olhar...

Ela toca abê com os pés descalços
dançando sem tocar o chão
Quando sorri dilata meus póros

quem me dera a sorte

Eu cuidaria com todo carinho
com todo o amor em seu coração

É de olhar bastante que isso não gasta
Morena esse teu olhar...

Assis Monteiro

11 novembro, 2011

Saudade que não passa

Faço parte disso também e me sinto em casa.
O sorriso acolhedor estampado nos olhos.
Gargalhada é massagem nas bochechas

Marchinhas, reizados, modas de viola
Um tempo e sua pegada em nossos corações
Aço e couro pra nascer tudo de novo

Uma canção despertando na chuva que cai
Existimos no cheiro que vem do forno
Desintegramos no sabor que a boca espera

Ah meus amigos, mesmo tendo-os visto a poucas horas
quanta saudade ainda estou de vocês.

Francisco de Assis

10 novembro, 2011

Revolucionários da "classe" média

Precisamos fazer algo por nós mesmos e
por aqueles que não podem fazer por si.
Protestos, reinvenções e revoluções.
Desinventar, a arte posta em cena.

Nossos queridos revolucionários da classe média
chamam uns aos outros de porcos capitalistas.
Não preciso explicar absolutamente nada
E isso te incomoda... certo?

Diga-me, onde estará seu discurso
quando a fome da vida entrar pela porta da frente com dentes de sabre
e alguém em quem você confia deixá-lo no olho do furacão,
onde tudo gira tão rápido que você não é capaz de se firmar
enquanto a sua vitalidade escoa ralo abaixo junto com seu suco biliar?

O que aconteceu com a sua bravura e sapiência?

Onde está a porra do seu discurso?

Dúvida? precisamos uns dos outros?
Da pra ver de onde vens,
com esse sorriso nos olhos
Irônico, agradeço por você existir.

Francisco de Assis

Rebelião

Minha alma clandestina hoje fez rebelião
bateu na cela, jogou fora a comida
sequestrou o carcereiro e queimou o colchão.

Reivindicou liberdade, clamou por amor
Observou a extensão e preparou o salto
Felicidade, adrenalina; em seguida disparou

Até os anéis de saturno; ficou faceira
Viu de perto a nebulosa com seu Pulsar do Caranguejo
Então sentou-se em baixo de uma figueira

Sentiu a lua expandir a sua potência
Deitou num segundo a sua essência.
E veio o sol corar-lhe as maçãs do rosto.

Júnior

09 novembro, 2011

Passeio

Te vejo correndo em um campo aberto onde as estrelas descem até você
em órbita se aglomerando formam uma colméia astronômica ao seu redor

Uma ave aparece e se parece com uma Arpia.
Cauda, garras e penas; mas a cabeça é de um leão
Arpia-leão abre a boca para despejar um arco-íris
multicolorida reluz a sua colméia de estrelas.

Um trovão anuncia:

- Pare!
- Sinta!
- Escute!

Vê aquele pé de caqui?
Feche os olhos para ver melhor.
São pedras preciosas
centenas de ágatas dependuradas.

Você precisa encontrar a pedra certa
Tenha paciência, não desista e lembre-se:
O campo harmônico tem sabores dos mais variados.

Está vendo aquela porta?
Não tenha medo, fale com o dragão.
É Ele o guardião dos meus sonhos.

Na soleira da porta-nuvem avistei você.
Pode entrar, seja bem vinda ao meu mundo.

Júnior

08 novembro, 2011

Viver

Tenho sede desse Yin Yang.
Do grito descontrolado da vida.
Do dique que se rompe em forma de tigre.
Do dragão que serpenteia no céu com olhos flamejantes.

Nas palavras de um Pessoa, muitas pessoas, alguns espíritos.
No extrato dos olhos, ondulante e extenso, o grito clandestino da alma.

Assis Monteiro

07 novembro, 2011

Curiosidade

Fico curioso sempre que ela desce a ladeira.
Queria saber o que toca no seu mp3 player.
Hoje ela estava com cara de rock 'n roll.

E o pézinho?

Marcando uma levada de blues,
pelo chiado da guitarra,
acho que era red house do hendrix.

Será que ela é musicista?

Ontem ela tamborilava os dedos no ferro do ônibus,
Sonhei um samba-canção, daqueles bem bregas.
Tão de perto, dava pra ouvir um mineirinho.

Semana passada ela estava em pé, dois bancos a frente.
Lábios, unhas, bochechas, tudo vermelho.
O cheiro dela era inebriante.

Como será que ela dorme?

Chegou meu ponto, vou passar na padaria
Mas hoje eu não tenho dúvida;
Ela escutava um blues.

Assis Monteiro

04 novembro, 2011

Pode falar

Você diz:
- Segue em frente.
Eu corro em zigue-zague.

Você diz:
- Aquieta o teu coração.
Eu bebo cachaça.

Você diz:
- Tenha calma!
Eu derrubo todas as garrafas.

Você diz:
- Faz parte da vida!
Eu desafio o diabo.

Você diz:
- Isso passa!
Eu atropelo as pedras.

Você diz:
- Eu te amo!
Eu não duvido
e também não acredito.

Chico

03 novembro, 2011

E eu que sei apenas o seu nome

É com ela que repousa o verso
um querer intenso de saber como é
o sabor dos olhos
o toque dos poros

É com ela que desperta o inverso
a paz que se desfaz num segundo
o desenho dos lábios
o cheiro dos cabelos

É com ela que mora o canto
aquele que emudeceu por não saber
o macio do ouvido
o sopro do desejo

É com ela que desata o silêncio
a pausa que antecede o batimento
o acorde da voz
a música do corpo

É com ela que repousa a dança
os pés, leve tempo dissolvido
a carícia dos dedos
a mordida dos passos

É com ela que eu sonho o momento
ensaio imaginando e me desfaço
que cor terá seu beijo?

Deve ser uma cor de céu
ou talvez a cor dos olhos de um dragão.

Assis Monteiro