09 dezembro, 2012

Uma fonte de sonhos

Sentimento é assim.
Sinto que as vezes exagero um pouco,
e que poucas vezes exagero um tanto.

Das coisas do coração
encontrei um menino,
ali, deitado na grama;
brincava.

no momento em que encarei-o nos olhos,
o meu coração sorriu
e tudo o que existe sorriu também.

aos pés do menino nascia uma fonte,
e de lá brotavam os meus sonhos.


ao acordar eu ainda sorria
e o meu corpo dançava.

agora já não me sinto tão só.

vou lá levar
um novo copo
bem cheio de sonhos
para a fonte do meu menino.


05 dezembro, 2012

Querer bem alguém

Quando a água do mar abraçar o seu corpo
sinta-se acolhida

Quando um vento carinhosamente afagar seus cabelos
percebe; é um cafuné que eu sonhei acordado

Quando a terra estiver firme por onde você andar
lembra do carinho que eu sinto por você

Quando o sol aquecer as maçãs do seu rosto
recebe o beijo que eu mandei de longe

28 novembro, 2012

Canção de um céu azul


Mirar
o fim de uma era
ao pé de um vulcão

Abraçar
o começo da vida
no olho de um furacão

Deixar
escorrendo o tempo
na beleza viva das canções

Esperar
que o vento sul
transforme os nossos corações.

22 novembro, 2012

Preguiça


Amanheceu.

Nasceu esta poesia no espreguiçar do corpo.

O dia escorreu.

para além da cama, poesia viveu preguiça

Adiantado o relógio.

poesia nasceu, cresceu.

E foi morrer nos lábios cerrados

19 novembro, 2012

Brigadeiro de panela

Bastou passar por mim devagar acenando e sorrindo com o seu vestido.
Menina você ateou fogo na minha pele, inundou todas as expectativas.

Bastou passar por mim devagar cantando sua voz de chuva de primavera.
Eriçou cada pelo do corpo, e todo pensamento, derreteu o céu nos lábios.

Bastou passar por mim devagar com essa boca de chocolate meio amargo.
Que desassossêgo! e, eu nem precisei de uma panela de brigadeiro;

Meu coração declarou alegria múltipla dos órgãos.

Bastou você passar devagar.

16 novembro, 2012

Sonhei com você (uma sugestão poética)

Eu quero tanto os teus olhos por perto agora
pra gente ficar fazendo nada com a dança das horas,
cheirando pescoço, desenhando corpos brilhantes na retina
mordendo pedaços; brincando de carinhos na eternidade do edredom.

Eita chuva perfeita pra esquecer o despertador e preguiçar mais um pouquinho,
foi isso, coloquei o celular no soneca e dormi mais uns quinze minutos antes de levantar;
assim sonhei contigo dançando no meu corpo o teu abraço, a gente se conhecendo de perto.

Quanto desejo havia ali,
nas palmas das mãos,
nos fios de cabelo,
em cada ossinho das tuas pernas.

Foram 15 minutos de soneca e uma vida inteira sonhando.

Menina, eu te quero hoje, amanhã e depois.
E tem mais, sugiro que você venha aqui.
Que eu vou gostar demais.

11 novembro, 2012

A muleta dos vermes

Saudosa maloca, maloca querida,
                                                  [ salve família!
esperança é o nome da estação.

Nesse teatro cotidiano espetacular
eles querem nosso sangue, nosso suor
O desrespeito é constante e amordaçado
incutido na necessidade do indivíduo mordaz

Sou capaz de dissimular o sorriso de aprovação
um sorriso falso que inunda o sertão; não pelo meio;
mas caminha, desliza, respira e serpenteia pela margem

Um senhor verme de olhar indignado observa com desprezo.
Tudo isto que a sua muleta não pode comprar eu tenho de sobra,
talvez por isso você me tome por desajustado, músico, maloqueiro

Se não entendeu o recado, rebobina a fita, liga a tecla sap e assiste de novo.

Desta vez eu não vou dissimular o meu sorriso; este é sincero, da alma, da fonte.



07 novembro, 2012

Impermanência e a poesia

São dias onde o carma se apresenta nítido, líquido
e o véu de Maya se dissipa para dar lugar à luz
Querer, tem desejo e bastante suco gástrico
nada, ninguém, nenhuma voz, somente paz

Será talvez um traço reto atravessando o meu caderno?

Impermanência fascina tanto quanto aos 7 anos de idade
quando ganhei o meu primeiro video-game de presente

- Continuo me deliciando com estas curvas abruptas -

(Des)cobertas escolhas de marfim lustroso e caro
sopesadas em um banquete para Deuses e anjos.

Sim, explique-se até extenuar qualquer possibilidade!
Me apetece o que é do entendimento do coração;
e se mesmo assim não houver conciliação?
Relaxe. Aquele sorriso, aquele
dos sete anos de idade
vive aqui comigo.

06 novembro, 2012

Canto para todos os cantos

Canto ontem para entregar minhas promessas ao fogo
Corro entregue para despejar minhas posses ao vento
Vivo despido para despertar de minhas vidas na terra
Morrerei acordado para confiar na sabedoria das águas

30 outubro, 2012

Graves frequências

A morte levou consigo
coisas que jamais verei novamente
sabores que nunca mais serão os mesmos
lugares distantes onde nossos pés não pisaram.

Onde está a inspiração?
Aquela que move, que cria?

A expectativa é algoz da coragem, agora que toda palavra é carregada de significado e energia
e mesmo o medo intrínseco dos 'eus' tomarem o controle da situação
já não pode ser arrefecido pela confiança, irmã mais velha da desculpa e dos cubos de gelo.

(aqui é simples, gostoso e natural)
entrega
é um barril de nutella
ou uma caixa de paçocas

(aqui é onde estou só novamente)
entrego
também as vísceras de cada monstro
nocauteado em minha alma

apesar de estar cansado eu continuo a caminhar para onde (D)eus quiser.

22 outubro, 2012

Pretinha

Dorme mais um pouquinho
deixa que eu preparo um café
quando estiver pronto eu te acordo
pra gente desenhar essa manhã na toalha

Acende um jardim pra me ensinar de vez do que nós somos feitos

Eu quero você por perto,
por cima, de conchinha

Um passeio alucinado é esse teu cheiro de hortelã molhada de sereno depois de um dia ensolarado.
Pretinha, quando chegar aquele fim de tarde faz um bolo pra gente só pra eu derreter no seu colo.

20 setembro, 2012

Uma casa no deserto

Quatro paredes sem janelas. Apenas uma porta.
É pra lá que eu vou quando preciso demolir
a descrença e todos os meus demônios

Esperava o que?
Talvez um sinal, uma palavra, qualquer sinal, qualquer palavra.
(O tempo escorria pela rachadura na parede)

Procurava o que?
Talvez um pedido, cinco letras, qualquer pedido, qualquer letra.
(O tempo rachava a frágil parede)

Destinado a encontrar o vazio,
Este imenso infinito de nada
onde o amor não tem espaço
e os cactos crescem viçosos

Chico

17 setembro, 2012

Gratidão ao velho Hazz - (Sonhos)

Meu bom amigo Hazz.
Este sentimento assusta quando vem?
Quero dizer quando chega assim desse jeito;
inundando a cidade e arrastando o sol pela gola da camisa?
.
Sabes por que te digo isto?
Porque Sofia é prova de sua existência.
não apenas ela, mas também presentes de lá
de lugares onde estivemos despertos de sua ausência

Me pergunto se os Dragões vivem algo semelhante...

Quando digo que é assustador não significa que sou eu.
Sim, são os outros! Mas ainda bem que tenho você.
Pois confesso; naquele instante pensei em desistir.

Foi por pouco, e quase me deixo 'quedar'
Lembrei de suas palavras e fechei os olhos
Voltei ao jardim, onde minhas bolas de gude brincavam sem gravidade
então eu pude dançar, sem tempo nem espaço a nossa forma de amar.

Francisco de Assis

16 setembro, 2012

O abrupto dos ventos

Experimentei calçar os teus sapatos e refazer meus passos
e de nada adiantou,
Pedalei em direção ao sol as 4h da manhã ouvindo Stones
foi reconfortante,
Cheguei até o porto e meu barco ali estava me esperando
foi uma bela vista,
Assim um pescador me avisou: - Vem tempestade pela frente!
icei a vela e parti,
Então senti a primeira rajada de vento velejando a seis nós
não senti medo,

apenas uma tristeza de quem partiu rumo a tempestade.


08 setembro, 2012

(Des)encaixe

Minhas mãos desenham no ar o seu corpo
procurando o encaixe perfeito das tuas escápulas

Meu peito insiste em guardar um pedaço de nuvem
daqueles que parecem algodão doce

Mas no olhar é que se vê o quanto existe
de ácido e corrosivo, de corpo atravessado

Os pés hesitam em refazer caminhos
os nós dos dedos e cada palavra dita

Olho para as minhas mãos e abraço esta condição!
O que eu poderia temer deste fascínio?

Acho que foi assim, entendendo um pouco de nada
neste momento ainda mais,
vejo o quanto entendo,
um pouco de nada




06 setembro, 2012

Palavras de um Dragão (Hazz)

E quando tudo isso parecer estranho
esse sorriso transbordará a tua morada
E quando tudo isso vier a te nocautear
esse peito amortecerá todos os golpes
E quando tudo isso não fizer mais sentido
esse coração receberá o seu espírito, luz.

19 agosto, 2012

Sem saber pra onde ir

Um tanto esse novo quanto expresso em pedaços de gente
Do que exatamente nós precisamos para acabar com isso?

Vazio, inóspito, impregnado de vácuo este coração não anseia,
apenas bate e bate a "percepção rotativa" de Charles Mingus,
destilando batidas dentro do circulo mesmo sabendo e sentindo
que o pulso está ali, que a rítmica esta ali, que a paixão está ali

Eu vejo crianças famintas através do vidro do automóvel
o sol pinta a cor da desigualdade no rosto daquela menina
A vida acontece e revela esta bigorna presa ao calcanhar
Seremos capazes de enxergar com os olhos do coração?

Francisco de Assis
de mil em mil rosas
não conto mais espinhos
ainda lembro
esquecer não posso
tudo é caminho
da rosa que põe cor na vida
de branco a vermelho
dou passos entre dias
recolho meus olhos
fechando a noite
fazendo rimas.

Flor do cerrado

24 julho, 2012

Trinta Voltas

A primeira a chegar foi uma jabuticabeira
dividindo espaço com os antigos araçás
demorou dar frutos, mas cresceu forte

Logo veio bromélia, laranjeira, olhos-de-mulata, garapuvu
borboleta, alecrim, hortelã, ipê, araucária e gralha-azul
joão-de-barro, comigo-ninguém-pode, goiabeira, capim-limão
rosa branca, arruda, violeta, pimenta-de-cheiro, manjericão

Os pais semearam sonhos com brilho de jardim nos olhos
As crianças fizeram parquinho e cercado com pedrinhas

Este jardim nasceu ali,
cresceu ali, no coração deste rapaz.

Francisco de Assis

19 julho, 2012

Café da manhã

Está presente aquele olhar, preso no redemoinho do liquidificador.
Meias lembranças, alguns momentos inteiros e outros ainda inéditos
Ao mesmo tempo tão vivos no mundo etéreo dos sonhos e das promessas
que quase posso tocá-los na goma da tapioca que esquenta na frigideira

Assim como o bobo sonha do alto do edifício, rabiscando versos no caderno
Eu rasgo os papéis para (re)escrever aquilo que agora estou deste momento,

mesmo em face da ausência,
de toda a mesma indiferença,
olho para trás, olho para frente e sinto chegar um sorriso de infância
e com ele sempre vem a tão esperada gargalhada que me toma.

E novamente eu olho para o chão.
Alguma coisa mudou em mim
Alguma coisa mudou em nós.

"...Por sempre andar, andar, sem nunca parar pequenas coisas vão ficando para trás..." ¹


Chico

1 -  Trecho da música  Por sempre andar dos Paralamas do Sucesso

10 julho, 2012

Diálogos - para Já basta II de Charles Raimundo

"...Já é hora do jogo virar, disposto, na sede Meu caso é grave, eles querem sacudir as redes / Eu vim pra arrancar a trave...”
"Emicida"

Se não existe, criaremos
Se não funciona, um de nós conserta
Se vem de cima, temos asas
Se vier de baixo, conhecemos o terreno
Se for pra somar, estamos juntos 
Se tentar sub(trair), multiplicamos o fogo
Se for pra dividir, estamos juntos
Nossa determinação é maior.
Quer tentar a sorte? Eu não.
Acredito no amor, acredito nos meus.

Francisco de Assis


09 julho, 2012

Poesias pra vida!

Façamos poesias unidas
vamos plantar juntos
o jardim
a horta
o bosque
a floresta
a selva
até o pântano
dos nossos dias
façamos poesias pra vida!

Flor do cerrado

06 julho, 2012

A concordância de Soonanda

...nossos corações batem juntos, por isso somos um...

Sou pai, sou filho, sou irmão
Sou fogo, sou terra (canção)

Sou homem, sou mulher
Semente, folha e caule
sou fruto que dá no pé

O doce do próximo acorde
E as conversas das melodias
Nessa alegria que nos envolve

Sou água lambendo a terra

Quando mais nada disso for
ainda assim serei música

Assis Monteiro



29 junho, 2012

A noite do meu velório - (Sonhos)

Esta noite tive um sonho estranho, assustador, cômico, hilariante
estava deitado em um caixão sendo velado e pude ver tudo distante.
Minhas mãos, a cabeça, ergui os olhos e vi; da beirada do caixão
rostos sisudos dilacerados em canapés. Ninguém me viu até então.

Reconheci os meus pais chorando e foi então que percebi
que poderia entrar em seus pensamentos e ver tudo que se passava ali.
A dor era tão grande que fui obrigado a sair de lá correndo, sem pensar

Afinal, eu pensava ?
Não.
Na verdade sonhava e a cada instante, imenso, desértico e lancinante
sentia saudades da Sofia, dos instrumentos, dos amigos e dos livros na estante

Lá a Sofia estava bem maior, devia ter uns vinte e poucos anos de idade
não tive coragem de entrar em seus pensamentos, mas tive curiosidade

Encontrei um amigo de muito tempo e fui depressa ver o que ele pensava
Ele estava "preocupado por não ter pego a camisa que ficou emprestada"

Ali estava ela, mais velha, cansada e bem diferente de quando nos conhecemos,
tive curiosidade de saber o que ela pensava e entrei em seus pensamentos
Mesquinha! Absurda! Sem coração! enquanto eu morria ela pensava na pensão.

Sai correndo daquela ratoeira e voei para os pensamentos do meu irmão
Ali encontrei uma bagunça tremenda, tinha família, eu grande, ele pequeno
fotos, contra-baixo, recordação de viagem, livros e um estojo de maquiagem

Quando cansei de  assistir aquele filme bizarro e minhas forças haviam esgotado
voltei para minha nova "cama" lentamente, escorrendo como calda de caramelo.
Havia me recolhido para dentro do caixão quando a vi atravessar pela porta;

Os olhos inchados denunciavam o choro, o peito enconlhido, os ombros caídos,
chegou tímida, não conhecia minha família, não conhecia os amigos que ali estavam.
Deu vontade de chorar ao vê-la assim, aquela moça morena que tanto me fez sorrir
não perdi tempo, juntei o último suspiro que me restava e voei para seus pensamentos

Não vou descrever aqui o que vi nem o que senti, apenas uma coisa importa dizer:

Naquele instante eu morri nos braços dela, embebido em sua pupila num sono sem fim.

Assis Monteiro

11 junho, 2012

Um ser de areia (no tempo)

Poderia entregar-te meu anseio de não saber o que fazer com isso?
Daria assim um belo filme pra assistir com balde de pipoca no colo.
Poderia arriscar mostrar-te um quadro borrado guardado no sótão?
Um belo retrato de vida paisagem nos dias de solidão do sem fim.

Poderia dar-te todas as minhas chaves de casa, das portas às gavetas?
Seria um molho pesado e um belo passa (tempo) para sua curiosidade.
Poderia levar-te pelas ruas desertas de onde nasce o terror e o espanto?
Desceriam todos os anjos vestidos de sangue para dançar seus passos.

Poderia?
Sim poderia.
Mas não quero.

Assis Monteiro

06 junho, 2012

Já basta II

Incas, Astecas, Maias, Guaranis, Kaingangs, Carijós.
Povo bravo e guerreiro presente em cada um de nós.
A música, a poesia, os desenhos na parede são as nossas armas
Quebramos as bandeiras, agora é a nossa vez.
Tome cuidado sistema
não carregaremos mais merda pra vocês

Charles Raimundo

04 junho, 2012

Colheria meia dúzia de silêncios


Colheria meia dúzia de silêncios sortidos
E poria - os em vasos
Fitaria suas pétalas desnudas
ao picar salsinha
enquanto a faca pousa
bem devagar
sobre a tábua.

Colheria meia dúzia de silêncios sortidos
Uns dois daqueles constrangedores,
Quatro ou três de satisfação,
Pegaria apenas um e não mais,
Do silêncio moreno dos teus olhos.

Fato: sempre há de se colher silêncios ruidosos
Daqueles cheios de frases que não dizem nada.

Um punhado que não caísse das mãos
Dos silêncios que brotam quando nos fitamos cansados,
com os dedos falando em carinho,
digitais por cima das peles.

Feito erva daninha,
Vem, quase sem escolha,
Um tanto de silêncios por não saber o que dizer.

E um vaso só pra ele:
Silêncio de fim de dia.

Pensando assim, 
já são quase duas dúzias de silêncios.
É que há tanto para se dizer.
Enquanto a faca desliza cortando as folhas da salsa.

Ainda assim,
duas dúzias de silêncio
Não calariam nossas perguntas,
Não cessariam nossos dizeres.

Colheria duas ou três duzias de silêncios
Para te falar das coisas que não entendo.

Colheria um silêncio viçoso 
Só pra te acalmar os olhos,
E podermos nos ter assim,
Ruidosos,
na madrugada.

Colheria meia duzias de silêncios,
e ficaria na tua porta,
Te esperando,
de jeans e chinelos.
Te olharia nos olhos
E munida de silêncio
Nada diria.
Tudo seria claro, certo e entendido.
Te levaria pelos lábios
E desceríamos a rua sem palavras.
Mãos atadas
Rua a fora.
Dançaríamos na noite abraçados
Beberíamos os tropeços e os saltos

Silêncios risonhos brotariam nas calçadas.

Colheria meia duzias de silêncios,
Quem sabe duas, quem sabe doze.

E colheria quantos fossem necessário,
pra dizer - te,
dos silêncios amorosos que carrego,
e que não se valem das palavras para mostrar-se.

Colheria meia duzia de silêncios sortidos,
Poria - os em vasos,
Enquanto pico salsinha,
E espero você chegar.

21 maio, 2012

bio(grafia)

Sem palavras para dizer do que somos feitos
O poro preenche a vibração de seus átomos
Cheiro de campina molhada, pasto, siriguela.

Falei com mamãe; ela contou que você não está bem
Falei com meu irmão; ele contou que nada está bem
Você perguntava; "como você está filho, tudo bem?"

Lembro a mesinha de centro,
o cheiro de cachaça boa,
a cor da madeira do seu violão.
Eu ainda sonho com a viagem.

Tinha farinha, manteiga de garrafa, rapadura
feijão de corda, baião de dois e doce de leite
pamonha, cuscuz, bolo de fubá, café preto

Filmadora, fotografias, fumo-de-corda e a barba de meu avô
Suas palavras ainda tem o peso de mil sóis em meus sentidos

Querem que eu desista, mas pode ficar tranquilo, não o farei.
Cantarei uma canção pra você, aquela do Milton Nascimento:

"Amigo é coisa pra se guardar, do lado esquerdo do peito..."

Júnior

09 maio, 2012

Seja meu corpo por mim

A pedra nasce pedra
A flor nasce uma flor
O ser humano nasce

Não se engane, sou otimista,
peço água em minhas orações
Me emociona o sorriso honesto
o olhar curioso e despretensioso

Entretanto você insiste;
catalogar, enquadrar, aparar
cercear, customizar, dizimar

Até a mais alta hipocrisia putrefata
de seu ideário natalino e deformante

A pedra vai morrer pedra
A flor vai morrer uma flor
O ser humano vai morrer "algúem"

Francisco de Assis

06 maio, 2012

Ogunhê: pelas lutas de ontem e de hoje

Com o axé de Ogum
africanos escravizados resistiram com
paixão e criatividade contra a opressão estabelecida.
Século XXI.... as lutas continuam.
A intolerância, o preconceito, a exclusão,
são alvos de nossas espadas.
E é sob a benção de Ogum
que venceremos os caminhos tortuosos.
Ogunhê!

Alexandra Alencar / Charles Raimundo

25 abril, 2012

Dialogos II (para Charles Raimundo - Já basta I)

Ontem imposição, hoje consenso capitalista operando dentro de nós.
Nós dormimos na tranquilidade da segurança adquirida em troca de nossa liberdade.
Assim sonhos terroristas e clandestinos não podem nos invadir.
Indiferente a quem serão apontadas as armas.
Quais as melhores armas para se filtrar o sonho? qual @ terrorista da vez?

B dos anos 80.

Veja também:
Já basta I - por Charles Raimundo
Diálogos I (para Charles Raimundo - Já basta I) por Francisco de Assis

23 abril, 2012

Fantasias

Se não tivesse a fantasia eu jamais existiria,
eu nasci quando meus pais tiveram a fantasia mais foda.

Júnior

18 abril, 2012

Diálogos I (Para Charles Raimundo - Já Basta I)

É política, não?
Não.
Dinheiro talvez, sim?
Não.
Soluções vomitadas para todos os gostos
Por aqueles que não conhecem nem o cheiro do problema

Perguntaram a você se a ração desse mês está boa?
Cruzaram seu caminho no latão, indo à feira comprar batatas?
Lavaram seus pés com o vinho tinto da indiferença?

Uns vieram para semear
Alguns vieram para cultivar
Outros vieram para pilhar a colheita

Eles tentam, e vão continuar tentando. Em vão.
Por que nós viemos para arrancar e transformar cabeças

Francisco de Assis

veja também Já Basta I, o poema que deu origem ao Diálogos I

Já Basta I

Nem pátria nem patrão
Abaixo a tirania
impõem seu estilo e sufocam nossas vidas
imperialistas egoístas não querermos ser vocês
Latino americanos
unidos numa voz
América latina junte-se para viver
América latina junte-se para vencer.

Charles Raimundo

09 abril, 2012

Onde a água nasce tem um por do sol

E a água brotou da terra, e, sendo broto
desenhou um caminho que lhe era sabido desenhar
sem mesmo pedir permissão para a terra onde estivera

Apenas desenhou,
ora vagarosamente,
ora vertiginosamente.

Os pés descalços dos dois
que passeiam perto de seu leito
deixam marcas no solo escuro e úmido

São eles os transeuntes de um tempo perdido
Os mesmos que sonharam um dia, espaço incabível
Caminham de mãos dadas até o dia em que o sol se pôr

Assis Monteiro

02 abril, 2012

Escuro

Procurei alguns mestres do oriente, outros do ocidente
eles me disseram: "abandone o ego, dê a outra face".
Fechei os livros e, percebi que sou uma goiabeira, não caibo

Você que anda com essa expressão de urso de pelúcia
distribuindo abraços com cara de compreensão e amor
De hoje em diante não hesito em oferecer-lhe o meu pior

Olhe em sua volta, quem no meio dessa fauna de pelúcia
está realmente preocupado com você? Muitos perguntam:
"Como estás, tudo bem?" E poucos se importam com a resposta.

Estás só, somente só, assim vou lhe chamar, assim você vai ser
A fogueira das vaidades queima devagar, com paciência, mas, sem parcimônia
Esse fogo que derrete as vísceras e traz a tona as "verdades escondidas"

Eu abraço essa escuridão que você tanto teme, extraio dela o supra-sumo
Bebo da fonte que gira a roda eterna dessa vida complacente e inexorável
Meu âmago devora cada vã expectativa. Cerceia seus olhos incrédulos.

Não adianta, adiante não, (não) se precipite, sejamos otimistas (não?)
Atire todas as suas pedras, queime todos os modernos hereges
Tente cortar minha cabeça mais uma vez.

De nada adiantará,
Sou como a Hidra de Lerna.

Chico

Algum Poema

Como começa um Poema?
Quando vc passa e não disfarça o seu prazer em ser
Música para meu corpo
Dança para meus olhos
Alimento pro tesão e pra alma
Contigo compartilho gestos e cadências, gostos e olhares.
Quem está nessas linhas retas de palavras tortas?
Você!

B. dos Anos 80

29 março, 2012

Certas (in)certezas, certezas (in)certas

Entrego a você meu sorriso aberto por que
confio no que me faz deserto e ali existo
Aceito esta contramão incerta posto que tudo é
agradeço a hora iminente, para onde a água flui

Assis Monteiro

26 março, 2012

(................)

Poema de nome invisível
Ode fundante entre dois possíveis amantes
Clandestinos na moralidade... Nos romances gastos de leitura
Nós de amantes, somos o brilho do sol no vidro do terceiro andar;
Diamantes de luanda

C.

22 março, 2012

APANHADOS

Há tempos não escrevo poemas
Há tempos não escrevo cadernos
Há tempos não leio seu corpo
A porta bate, alguem me quer lá fora
Fora de controle, o bicho homem vai dormir
A dor mais forte do homem será a fome?
Você tem fome de que?
O que tu queis cume?
Sentimentos reduzidos a razão
Sentimentos que compartilham a mesma mão
A beleza poética salva a pobreza da escrita geométrica
Na dupla mão, ninguém sabe onde uma conversa pode levar.
A mão que transforma o barro é transformada pelo mesmo
Há tempos que o próprio tempo não assume "nada"
Há coisas de "nada" que assumem muitos tempos
No momento da dança, o tempo tu o tempo eu, ritmos nu corpo nu.
Assim ... apanhados.

C.

04 março, 2012

Crescer

Conversando conversas escutei um algo forte
que seja de vida ou que seja de morte

encarar a verdade latente, aquela que pulsa
baixinho entre escolhas e desventuras

é algo que nos faz crescer, desde que sejas
a força para viver

e que tenhas a serenidade de aceitar.

Assis Monteiro

22 fevereiro, 2012

Quarta-feira de cinzas

Fome
de som
de chêro
de tempêro

reflito ainda bêbado sobre esse "quê" intenso
somente uma força ancestral pode fazer aquilo

Foram vários os dias
de folia, amor e alegria
em momentos todos coloridos

logo hoje que o meu despertador tocou bem atrasado
enquanto eu sonhava mil sóis atravessando a janela

O dia acordou
com a mesma cor
da calça do detento

reflito ainda bêbado se; a fome tem cor ?
desço a colina e começo a prestar atenção

Algumas gaivotas
fedor de cela e mijo
crianças dormem na praça

reflito ainda bêbado se; a fome tem cor ?
então começo a rememorar outros carnavais

Lembro bem do dia
na praça da república
a cor da farda da polícia

reflito ainda bêbado se; a fome tem cor?
e finalmente - ainda bêbado - compreendo

Cru
simples
e visceral

essa fome é cinza

da cor da pele daquela menina
da cor da pele de um tubarão
da cor da miséria em questão
uma cor, de hipocrisia cristã

E quem se atreve a classificar os normativos?
sinta o privilégio, é quarta-feira de cinzas
amanhã alguém vem entregar a ração na porta

Francisco de Assis

20 fevereiro, 2012

Dilúvio

As palavras de Mr. Orwell tem ganhado forma a cada dia
seres avarentos congratulando e nomeando um novo herói
banalidade amordaçada já faz parte da sua cesta básica

Para onde vão os sonhos? Aonde se escondem as crianças?

Seu juramento de nada me serve, bastaria um sim ou não
levaria consigo essa marca da mentira? da desconfiança?
ao invés disso, responde aquilo que vem do seu coração

Os meus, os teus, onde estarão agora? Tu ainda respira?

Noutras preces eu vi o tempo rompendo a terra em ciclos
Água inundando o sertão, rochas pairando sobre a cidade
Um pássaro-corneta anunciando o que vinha pela frente..

partícula;
gotícula;

mãos em concha esperando o que beber cair do próprio sol
e o primeiro mercenário vendendo pódio em troca de carne
suor em troca de sangue, sangue as custas do pão e circo

Água, bastante água, uma enorme tempestade cair do céu
para lavar os teus olhos e, afogar o circo de horrores

voltar a terra traz beleza e esperança
amizade me faz sorrir e me leva a crer

Não se engane pois sou otimista peço água
todos os dias em minhas preces, peço água.

Francisco de Assis

14 fevereiro, 2012

Castelos de Nagô

O olhos transbordam de alegria ao ver correr a pequena cria
a paisagem acolhe o pequeno rebento, é Nagô, é Nagô, é Nagô
castelo d'areia, baldinho cheio d'água;
" - quanta tatuíra odé!"

os pés deixam o rastro entre o percalço da caminhada no axé

É vida é som, mar e sol, papai, mamãe, amigos, dia perfeito
deixa estar o tempo sem direção que o vento traz um sossêgo

Take it easy my brother Charles
Take it easy meu irmão de cor
Take it easy my sister Xanda
Take it easy minha irmã de cor

Momento atemporal. Apenas um, nada mais!
Sem retrato nem marca, apenas lembrança.

Nagô menino de praia e seu boné virado pra trás
Sorriso doce e olhar atento, a paisagem é dele;
do pequeno-grande rebento.

Assis Monteiro

09 fevereiro, 2012

Entre meios

Olhares atentos ao que nos resta de dignidade
passo torto, apressado, encontrando um começo
prefiro de ontem os canteiros que o entremeio
nas calçadas há poeira cobrindo desonestidade

Quem se atreve a apontar? É o mesmo currículo
Dá pra acreditar em quem? É o mesmo discípulo

Conversa "fiada" (um dia ele paga o que deve)
Evolução espiral de alma ou devir consolação?
Ainda assim prefiro canteiros que entre meios.


Francisco de Assis

25 janeiro, 2012

Aponte seus dedos

Vivo cercado de água, e, o que tem do lado de lá?
Atravesso a ponte e me identifico com o ambiente.
Sonho grudado no ferro do latão, sonâmbula gente.

O mecanismo é forte o bastante
trabalha dia e noite sem parar
e consegue mantê-los distantes

Tem informação? Então tem privilégio, é sabido
e quem deveria ser um aliado tornou-se inimigo

Você é, eu sou, e, ainda assim não somos
as vezes somamos em frações de milésimos
quando isso acontece surgem novos átomos

ele foi criado para o abate, mero serviçal
a serviço do clero, do nobre senhor feudal

Colombo Salles não apenas separa ilha e continente
também separa sonhos, separa humores, separa gente

Francisco de Assis

20 janeiro, 2012

A água flui (aonde o som se esconde)

Os dias passam e a água corre
triste-mente despenca acordes
desenha caminho nos barrancos
salpica insetos na superfície

Tive seca, por dias, sem água
sem saliva, sem lágrima, nada
durou corrosiva secura branca

E por fim que nasceu nascente
vibrou corrente, encheu lagoa
chiou pedra e estalou madeira

o cipó lambe o espelho d'água
distrai a correnteza tchuplam
assim transbordando este poço

e por fim que nasceu nascente
margem, profundo rio do tempo
carrega a vida, sendo destino
e o som que não esconde; vivo

Assis Monteiro

Bóra pro céu

Acordei torto, como foi que cheguei
com o olhar perdido; ressaca mortal
Algumas garrafas vazias, e cigarros
Tem carona? Alguém para o pantanal?

Substância: recordações
Apropriada: ao presente
Abstrações: trabalhosas
Memoráveis: construções

O rosto me faz lembrar o México
não sei bem ao certo por que
Diz estar indo para o céu
talvez eu me arrependa
só indo pra saber

bóra...

Chico

18 janeiro, 2012

Chora neném

Quando você nasce alguém bate na sua bunda
esperando choro para ver se você tem saúde
Eu digo que essa pancada vai um pouco além
Pois que no mundo de hoje você é o que tem

Ah meu amigo! bastaria que fossem honestos
e foi dito que até num lixão nascem flores
apenas sinceros como um sorriso de criança
onde nascem sonhos e um botão de esperança

Um pedaço de chão: tá caro
Comer o que é bom: tá caro
Estudar-trabalhar: tá caro
Passear no mundão: tá caro

Você me fita com esses olhos esbugalhados
de quem quer mais do que pode carregar
no final da história eu passo na boa
você precisa de seguro pra passear

Tá-claro-tá-caro-caro
Tá-claro-tá-caro-caro
Tá-claro-tá-caro-caro
Tá-claro-tá-caro-caro

Ainda bem que a arte resiste.

Francisco de Assis

13 janeiro, 2012

Ipods, Ipads e o I-Homem

Avisa para o vizinho
que é de esperar sentado
os prêmios que lhe prometeram

Consumidos e consumidores, artistas e atores
Sacrificam seus ossos para dizerem das dores
Outrora foi simples, até um tanto entediante
criatividade e dedicação.. miséria bastante?

O que produz o agricultor? conhecimento?
O que produz o governante? mão de obra?
O que produz o acadêmico? alimento?
O que produz nossa nação? desigualdade?

andróides fabricados em série
marcados com código de barra
caminhando rumo ao deserto
sem vida, sem nexo; sem nada

O amor talvez funcione
não é fácil acreditar

procuro não duvidar

Francisco de Assis

03 janeiro, 2012

Nome aos bois ?

A boiada que nem sonha bandeja de isopor
Meu amigo caminha sem perceber a estrada
E quem um dia irá saber o que veio fazer
só caminhamos pra onde crepita chicotada

Estás roubando seu próprio sopro de vida
concordando com diagnósticos improváveis
Sem força para quebrar os velhos hábitos
laudos, remédios, os motivos infindáveis

Humanidade? Eu digo Calamidade!
Felicidade? Eu digo Iniquidade!
Sociedade ? Eu digo Inimizade !

Ha quanto tempo te ensinou este mundo ?
E qual foi a promessa que lhe fizeram ?
Eu vejo mais cadáveres pegando o ônibus
Do que aqueles enterrados num cemitério

Francisco de Assis