25 janeiro, 2012

Aponte seus dedos

Vivo cercado de água, e, o que tem do lado de lá?
Atravesso a ponte e me identifico com o ambiente.
Sonho grudado no ferro do latão, sonâmbula gente.

O mecanismo é forte o bastante
trabalha dia e noite sem parar
e consegue mantê-los distantes

Tem informação? Então tem privilégio, é sabido
e quem deveria ser um aliado tornou-se inimigo

Você é, eu sou, e, ainda assim não somos
as vezes somamos em frações de milésimos
quando isso acontece surgem novos átomos

ele foi criado para o abate, mero serviçal
a serviço do clero, do nobre senhor feudal

Colombo Salles não apenas separa ilha e continente
também separa sonhos, separa humores, separa gente

Francisco de Assis

20 janeiro, 2012

A água flui (aonde o som se esconde)

Os dias passam e a água corre
triste-mente despenca acordes
desenha caminho nos barrancos
salpica insetos na superfície

Tive seca, por dias, sem água
sem saliva, sem lágrima, nada
durou corrosiva secura branca

E por fim que nasceu nascente
vibrou corrente, encheu lagoa
chiou pedra e estalou madeira

o cipó lambe o espelho d'água
distrai a correnteza tchuplam
assim transbordando este poço

e por fim que nasceu nascente
margem, profundo rio do tempo
carrega a vida, sendo destino
e o som que não esconde; vivo

Assis Monteiro

Bóra pro céu

Acordei torto, como foi que cheguei
com o olhar perdido; ressaca mortal
Algumas garrafas vazias, e cigarros
Tem carona? Alguém para o pantanal?

Substância: recordações
Apropriada: ao presente
Abstrações: trabalhosas
Memoráveis: construções

O rosto me faz lembrar o México
não sei bem ao certo por que
Diz estar indo para o céu
talvez eu me arrependa
só indo pra saber

bóra...

Chico

18 janeiro, 2012

Chora neném

Quando você nasce alguém bate na sua bunda
esperando choro para ver se você tem saúde
Eu digo que essa pancada vai um pouco além
Pois que no mundo de hoje você é o que tem

Ah meu amigo! bastaria que fossem honestos
e foi dito que até num lixão nascem flores
apenas sinceros como um sorriso de criança
onde nascem sonhos e um botão de esperança

Um pedaço de chão: tá caro
Comer o que é bom: tá caro
Estudar-trabalhar: tá caro
Passear no mundão: tá caro

Você me fita com esses olhos esbugalhados
de quem quer mais do que pode carregar
no final da história eu passo na boa
você precisa de seguro pra passear

Tá-claro-tá-caro-caro
Tá-claro-tá-caro-caro
Tá-claro-tá-caro-caro
Tá-claro-tá-caro-caro

Ainda bem que a arte resiste.

Francisco de Assis

13 janeiro, 2012

Ipods, Ipads e o I-Homem

Avisa para o vizinho
que é de esperar sentado
os prêmios que lhe prometeram

Consumidos e consumidores, artistas e atores
Sacrificam seus ossos para dizerem das dores
Outrora foi simples, até um tanto entediante
criatividade e dedicação.. miséria bastante?

O que produz o agricultor? conhecimento?
O que produz o governante? mão de obra?
O que produz o acadêmico? alimento?
O que produz nossa nação? desigualdade?

andróides fabricados em série
marcados com código de barra
caminhando rumo ao deserto
sem vida, sem nexo; sem nada

O amor talvez funcione
não é fácil acreditar

procuro não duvidar

Francisco de Assis

03 janeiro, 2012

Nome aos bois ?

A boiada que nem sonha bandeja de isopor
Meu amigo caminha sem perceber a estrada
E quem um dia irá saber o que veio fazer
só caminhamos pra onde crepita chicotada

Estás roubando seu próprio sopro de vida
concordando com diagnósticos improváveis
Sem força para quebrar os velhos hábitos
laudos, remédios, os motivos infindáveis

Humanidade? Eu digo Calamidade!
Felicidade? Eu digo Iniquidade!
Sociedade ? Eu digo Inimizade !

Ha quanto tempo te ensinou este mundo ?
E qual foi a promessa que lhe fizeram ?
Eu vejo mais cadáveres pegando o ônibus
Do que aqueles enterrados num cemitério

Francisco de Assis