De que lado nós estamos?
De que lado você está?
Esquerda?
Direita?
Enquanto eu olhava para o passado e pressentia o futuro
fui colhendo algumas impressões carregadas de sentimento
misturadas no meu corpo como se estivessem em um liquidificador.
Hoje cedo na rua Tenente Silveira,
a visão da índia sentada na calçada com seus filhos,
vendendo o seu artesanato, foi ali que bebi as primeiras impressões.
Continuei a olhar o passado e vieram mais impressões, mais sentimentos.
Nas mãos calejadas dos nordestinos que deixaram para trás sua terra natal
para tentar a sorte grande nas cidades de pedra assim como fez meu pai;
No rosto maquiado do travesti que só existe quando cai a noite;
Na fala muda do cidadão invisível de Alexandra Alencar;
No lombo cansado das multidões de trabalhadores nas filas da Previdência Social;
Nas costas arqueadas dos enormes bolos de carne esperando nas filas do SUS;
No choro dos seres multilados e trancafiados por suas escolhas;
No riso ezquisofrênico dos que são diferentes de mim e de você;
Na boca seca e rachada dos nóias da crackolândia;
Nos braços tatuados dos milhares de presos apodrecendo nas penitenciárias;
No olhar maldito dos policiais militares cheirando cocaína no vale do anhangabaú;
Nas pernas trêmulas dos moleques presos e espancados por fumar maconha;
No estômago torto da impotência e da humilhação perante as "autoridades";
Das invasões, das chacinas, das mortes e mais mortes causadas pela indiferença;
É o peso do martelo das diferenças.
De que lado nós estamos?
De que lado você está?
Esquerda?
Direita?
Eu estou do lado em que bate o meu coração.
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