20 janeiro, 2012

A água flui (aonde o som se esconde)

Os dias passam e a água corre
triste-mente despenca acordes
desenha caminho nos barrancos
salpica insetos na superfície

Tive seca, por dias, sem água
sem saliva, sem lágrima, nada
durou corrosiva secura branca

E por fim que nasceu nascente
vibrou corrente, encheu lagoa
chiou pedra e estalou madeira

o cipó lambe o espelho d'água
distrai a correnteza tchuplam
assim transbordando este poço

e por fim que nasceu nascente
margem, profundo rio do tempo
carrega a vida, sendo destino
e o som que não esconde; vivo

Assis Monteiro

2 comentários:

  1. O som deve ter ido se esconder por ai, atrás do baixo, provavelmente...

    "Tudo era som, ruído, tudo tocava os tímpanos, a Vida vibrava aguda. Os rés, os sóis, os estrandos, os gritos, os gemidos, os estalos, os lás, os dós, maiores, menores, sustenidos, em todos os timbres, em todos os tons tocaram juntos por um momento. E se foram. Foram-se todos. E só o silêncio ficou ali. Sem ter como se aconchegar entre as notas. Sem pode dizer nada das idéias. Sequer lhe restou lágrimas, pois o som delas descendo o rosto esvaiu-se. E sem ele elas não podiam mais cair. E não cairam. Ficaram ali paradas, inquietas, sentadas, no canto dos olhos, como quem olha o horizonte de um mirante, tudo grande, infinito, vasto. Cair lhes demandava um grito. E as lágrimas não podiam gritar, pois todo o som tinha se ido. E o silêncio estava ali, estático, seco, na pele."

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  2. Anônimo6:19 AM

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