04 junho, 2012

Colheria meia dúzia de silêncios


Colheria meia dúzia de silêncios sortidos
E poria - os em vasos
Fitaria suas pétalas desnudas
ao picar salsinha
enquanto a faca pousa
bem devagar
sobre a tábua.

Colheria meia dúzia de silêncios sortidos
Uns dois daqueles constrangedores,
Quatro ou três de satisfação,
Pegaria apenas um e não mais,
Do silêncio moreno dos teus olhos.

Fato: sempre há de se colher silêncios ruidosos
Daqueles cheios de frases que não dizem nada.

Um punhado que não caísse das mãos
Dos silêncios que brotam quando nos fitamos cansados,
com os dedos falando em carinho,
digitais por cima das peles.

Feito erva daninha,
Vem, quase sem escolha,
Um tanto de silêncios por não saber o que dizer.

E um vaso só pra ele:
Silêncio de fim de dia.

Pensando assim, 
já são quase duas dúzias de silêncios.
É que há tanto para se dizer.
Enquanto a faca desliza cortando as folhas da salsa.

Ainda assim,
duas dúzias de silêncio
Não calariam nossas perguntas,
Não cessariam nossos dizeres.

Colheria duas ou três duzias de silêncios
Para te falar das coisas que não entendo.

Colheria um silêncio viçoso 
Só pra te acalmar os olhos,
E podermos nos ter assim,
Ruidosos,
na madrugada.

Colheria meia duzias de silêncios,
e ficaria na tua porta,
Te esperando,
de jeans e chinelos.
Te olharia nos olhos
E munida de silêncio
Nada diria.
Tudo seria claro, certo e entendido.
Te levaria pelos lábios
E desceríamos a rua sem palavras.
Mãos atadas
Rua a fora.
Dançaríamos na noite abraçados
Beberíamos os tropeços e os saltos

Silêncios risonhos brotariam nas calçadas.

Colheria meia duzias de silêncios,
Quem sabe duas, quem sabe doze.

E colheria quantos fossem necessário,
pra dizer - te,
dos silêncios amorosos que carrego,
e que não se valem das palavras para mostrar-se.

Colheria meia duzia de silêncios sortidos,
Poria - os em vasos,
Enquanto pico salsinha,
E espero você chegar.

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